7.12.09

Tempo de menos,

Vontade demais.

Tempo demais,

Talento de menos.

27.11.09

Era uma vez uma menina que queria conhecer o mundo. Ela sonhava acordada com todas as paisagens - naturais ou não - que poderia encontrar em lugares distantes de sua simples realidade.

A menina era pequena - ou pelo menos assim a consideravam - e, muitas vezes, o mundo "intelectual" se fechava a ela como se dissesse "só daqui a uns anos..." e isso ela detestava.

Desde que descobriu o poder que as palavras têm ficou fascinada e não queria mais sair de perto dos livros. Para ela cada livro era especial, tinha seu cheiro próprio, que lhe reservava um ar bastante pessoal.

Jovem, mas interessada, a menina almejava ser conhecedora de toda a literatura, de toda a cinematografia, de toda a poesia presente nas paisagens de todo o mundo.

Era uma vez essa menina que hoje identifico como eu.

A identidade perdida

(ou qualquer outro título melhor que esse daí..)

Não é que eu não saiba quem sou, simplesmente não sei quem eu quero ser...



Queria tanto ser uma daquelas pessoas que já nascem querendo exercer uma daquelas profissões "pré-moldadas": "Mamãe, vou ser médico!" ou "Papai, serei advogado como você!", mas não sou e não dá pra chegar e dizer "Mamãe, quero ser uma escritora rica, famosa e adorada por todo tipo de leitor". Desculpe, mas não dá. Não dá pra simplesmente sentar e escrever e torcer para que o mundo goste; não dá para fazer uma faculdade de letras sem querer ser professora, apenas pelo gosto que tenho pelas palavras... E é por isso que me sinto perdida. Perdida e sozinha procurando descobrir o que eu quero fazer da minha vida. O que eu quero ser na vida... Por que não dá para simplesmente digitar no Google meu nome e descobrir quais as opções para alguém como eu, com os meus interesses? Queria que a resposta para todas as minhas interrogações caísse do céu, mas parece que o tempo fechou de vez e não será fácil achar uma brechinha para a luz do sol vir me iluminar. Sabe qual é a coisa mais angustiante? É justamente saber que só eu posso descobrir todas as respostas, basta eu para achar o caminho... E mais ninguém pode responder as minhas perguntas, e mais ninguém pode descobrir o que eu quero, e mais ninguém pode decidir por mim.

11.11.09

Orfandade

Isadora Garcia


Estou cansada de ver em meus textos

A letra de outrem.

A inspiração se confunde com o plágio

E desisto do escrito cuja autoria é de ninguém.

Metade

Oswaldo Montenegro



Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio;
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca;
Porque metade de mim é o que eu grito,
Mas a outra metade é silêncio...

Que a música que eu ouço ao longe
Seja linda, ainda que tristeza;
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante;
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade...

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece
E nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta
A um homem inundado de sentimentos;
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo...

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço;
E que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada;
Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão...

Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo
Se torne ao menos suportável;
Que o espelho reflita em meu rosto
Um doce sorriso que me lembro ter dado na infância;
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
A outra metade eu não sei...

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais;
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço...

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para faze-la florescer;
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção...

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade... também.

28.10.09

Cinco meses em cinco minutos

Por: Isadora Garcia


Estava estática. Não conseguia desviar meus olhos da profundidade dos teus. A distância que nos separava já era insignificante e eu sentia minhas mãos tremerem. Tudo o que eu havia passado até aquele momento despertava um sentimento que naquele instante fluía por todo o meu corpo.


Ao menor sinal de um movimento teu, meu coração pulsava enlouquecido. Foi quando colocastes uma mecha de meu cabelo atrás de minha orelha e aproximaste teu rosto, segurando carinhosamente o meu em tuas doces e delicadas mãos. Meus olhos se fecharam lentamente sem que eu tomasse conhecimento. Experimentava uma sensação única.


Quando, finalmente, depois de todos aqueles meses em que te esperei, nossos lábios se tocaram, um show de sensações se espalhou em meu peito. Queria te prender a mim para sempre, queria eternizar aquele momento, queria, ao mesmo tempo, sentir cada detalhe do teu movimento suave e atropelar tudo, liberando o que guardei só pra mim por tempo mais do que suportável.


Nossos rostos se afastaram então e achei difícil abrir os olhos. Quando finalmente o fiz, encontrei o brilho do teu olhar, o carinho da tua expressão, o calor do teu sorriso... Inacreditável. Sorri de volta, tímida, e deitei minha cabeça no teu ombro, entregando-me ao que foi o melhor abraço de todos que já havia dado.


Saber que todas as vezes que suportei a tua ausência, e mesmo a tua indiferença, valeram a pena me trazia mais do que felicidade. Uma lágrima teimosa acabou caindo, mas enxuguei-na de modo que não percebestes. Não importava mais o passado, o sofrimento. Iríamos enfrentar juntos tudo o que nos fosse colocado do caminho. E eu poderia finalmente ser feliz.

22.10.09

A esperança é a última que morre

Por: Isadora Garcia


"Lá, a felicidade assombra, porque, ora bolas, é o que se repete desde os tempos bíblicos, a esperança será a última a morrer. Sobrevivendo aos sonhos desmedidos, aos gestos bem intencionados, à miopia criada pelos hábitos, às palavras ditas sem pensar, à paralisia do orgulho, à sinceridade inconsequente, às desculpas que chegaram tarde demais."


"Fábula Urbana", Maurício Gouveia, "Clube da Leitura - modo de usar - vol I"




A esperança é um sentimento estranho. Ela não pede licença e se intromete nos nossos assuntos, quando vamos ver, ela já está em nós, alojada, e acabamos gostando, acabamos alimentando-na.

Dona do próprio nariz, a esperança mora em qualquer lugar. Onde ela vê que está surgindo uma certa tristeza, um certo ar de descrença ela se abriga, se instala. E não adianta reclamar, que ela é decidida e não vai embora até que você pense que nem ela.

A esperança é indestrutível, ela sabe que enquanto houver vida ela existirá, ela sabe de tudo, ela é dona de tudo. Mas nem por isso ela se acha, ela fica se gabando por aí... A esperança, na verdade, é bem modesta, até... Ela é camarada, anda com todo mundo, em qualquer época da história, em qualquer estação do ano, em qualquer lugar do planeta.

Para a esperança somos todos iguais e merecemos todos um bom futuro. Para ela há solução pra tudo e não há o que temer. A esperança acredita em cura pra corrupção, fim de guerras, paz mundial, fim do preconceito, cura pro câncer, cura pra AIDS, fim do desmatamento. Ela acredita em sorrisos, em abraços, em felizes para sempre, eu te amo, saudades, promessas, perdão.

Se todos fossem que nem a esperança o mundo seria mais verde, haveria mais arco-íris por aí, mais amor no coração, mais gente olhando pro céu sorrindo para seus próprios pensamentos. Mas a esperança não vai desistir nunca. A meta dela é convencer a nós todos de que toda a bondade é possível. A esperança tem uma finalidade. A esperança é a última que morre, mas no dia em que ela conseguir alcançar seu objetivo, ela promete que vai se mandar. E aqui embaixo ficaremos todos morrendo de saudades dela, mas ainda assim seremos felizes, repetiremos seus ensinamentos todos os dias, credores de um futuro muito melhor para todos.

15.10.09


Ontem fez um ano que eu mergulhei de cabeça numa nova vida. Ontem fizemos um ano de namoro. Há um ano que construímos a nossa história e não mais cada um a sua. Desde o dia 14 de outubro do ano passado eu sorrio ao lado dele e ele ao lado meu. Ontem eu ganhei um presente maravilhoso: uma aliança de compromisso com o nome dele gravado e a nossa data. Estou tão feliz que não consigo nem conter meu sorriso bobo ao admirar o anel no meu dedo anelar. É tudo tão mágico quando estamos juntos, me sinto tão segura em seu abraço, observar aqueles olhos lindos me traz uma paz, uma certeza de que será pra sempre que é simplesmente indescritível...


Deixo aqui em homenagem a este aniversário então a música que ele fez e que tocou pra mim antes de me pedir em namoro:


Você e eu

Bruno Cabral

Para Isadora Garcia


Penso em você a cada instante

No seu olhar, no seu sorriso

Esteja perto ou distante, não importa

Penso em você comigo!


Foi assim tão de repente

Seu olhar cruzou com o meu

E a partir desse momento

eu sabia que era só seu


Você é a rima dos meus versos

Minha maior inspiração

É tudo que eu penso

As letras da minha canção


Fomos feitos um pro outro

E não estou errado

Sou louco por você

Completamente apaixonado


Te amo, fica comigo

Te quero, eu te preciso

Não da mais para viver

longe do seu amor

Fica comigo, e esquece tudo o que passou

10.10.09


As regras:
.
1 - Dizer quem te presenteou com o selo e colocar o link do blog;
2 - Copiar o questionário e responder a ele;
3 - Presentear blogs com o selo e avisá-los sobre isso.
.
O questionário:
.
1. MANIA: escrever.
2. PECADO CAPITAL: preguiiiiça....
3. MELHOR CHEIRO DO MUNDO: o cheiro do meu namorado.
4. SE DINHEIRO NÃO FOSSE PROBLEMA EU FARIA: viagens pelo mundo inteiro, levando em cada viagem um amigo querido.
5. CASOS DE INFÂNCIA: muitas e muitas travessuras com a minha melhor amiga Nine que tínhamos que fazer escondidas da babá dela, Graça.
6. HABILIDADES COMO DONA DE CASA: arrumar a cama vale?
7. O QUE NÃO GOSTA DE FAZER EM CASA: lavar pratos.
8. DESABILIDADES COMO DONA DE CASA: cozinhar, lavar e passar roupa, tudo!
9. FRASE: Faça ao outro aquilo que quer que ele faça com você.
10. PASSEIO PARA ALMA: ler e escrever poesias.
11. PASSEIO PARA O CORPO: parque de diversões! =D
12. O QUE ME IRRITA: falsidade.
13. FRASE OU PALAVRA QUE FALA MUITO: "cara!"
14. PALAVRÃO MAIS USADO: "porra"
15. DESCE DO SALTO E SOBE O MORRO QUANDO: sofro injustiças ou algum amigo meu as sofre.
16. PERFUME QUE USA NO MOMENTO: Lacoste touch of pink.
17. ELOGIO FAVORITO: "Mô, você é linda!" (Bruno! ^^)
18. TALENTO OCULTO: imitar um apito com a língua (não, não é um assovio)
19. NÃO IMPORTA QUE SEJA MODA NÃO USARIA NEM NO MEU ENTERRO: aquelas sandálias horrorosas que são de plástico, com o bico mais redondo do que não sei o quê, cheias de furos e com cores fortíssimas, nossa!
20. QUERIA TER NASCIDO SABENDO: química e física!
21. EU SOU EXTREMAMENTE: gulosa.

Recebi o selo do blog "Mulher é desdobrável" (obrigada, Tati, vc é que é uma fofa!) e o passo para o "Diálogos a Sós", da Júlia.


PS: Sei que o blog está acumulando uma certa poeira, mas é que estou começando a escrever um livro! Bem, não sei se esse vai dar certo, pq eu já tentei antes e acabei deixando a história abandonada aqui no computador, mas vamos torcer! Mas, apesar disso, vou ver se eu escrevo algum poema ou conto ou "desafio" para postar aqui =) Beijos!

27.9.09


O que pesa e o que preenche

Isadora Garcia



Escrevo e fico mais leve.

Escrevo e torno-me mais pesada.

Porém este peso segundo não me incomoda

como o que sentia antes.


O pioneiro, o peso ruim, o peso pesado

machucava-me porque era tudo o que eu tinha a dizer

preso,

imperfeito,

confuso,

errado.


Mas, quando organizado,

quando, mais que sentido, explorado,

o peso preso caiu no papel

e encontrou seu destino

que é pesar naquele que o ler,

mas pesar de outra forma,

pesar como me pesou o segundo peso,

aquele que preenche, que enriquece.


Meu desejo mais profundo

é fazer essa troca de pesos diariamente.

Deixar cair na folha o peso que me pesava

E absorver na leitura o peso que me preenche.

21.9.09


Irrecusável

Isadora Garcia



Sinto-me invocada,

atraída,

chamada.


Sinto-me hipnotizada,

levada (sem aparente razão),

puxada.


Mas não me importo.

Antes mesmo que perceba,

me entrego,

me deixo guiar

por tal força desconhecida, suprema.

Tão misteriosa,

que muitas vezes me faz tentar descrevê-la.


Caminho junto a ela,

não me perco,

parece que sempre andei por tais trilhas.

A adaptação é imediata.


Abro espaço e a domino;

Abro a mente e a domestico.

Agora eu que a levo comigo.


A poesia, mesmo rebelde,

se entrega, assim como fiz,

se deixa guiar, une-se a mim,

muitas vezes me auxilia,

e nunca me abandona.


A vocação concretizou-se,

o chamado foi atendido,

o dom foi exercitado,

o talento foi desenvolvido,

a parceria se iniciou.

18.9.09


A evasão dos versos

Isadora Garcia



Roubaram-me os versos

só o que me restam são

resquícios de uma mente fértil

impossibilitada de se expressar.

13.9.09

“Saldade”


Sim, saldade com L mesmo, deixe que eu a escreva como quero, que essa minha saldade vem de mim e não de você, então sou eu sua dona e sua criadora. Escrevo-a assim, neologisticamente, porque essa não é uma saudade comum, batida, que já deu muito o que falar. A minha saldade tem gostinho de sal, tem presença de inerente tempero no meu dia.


Basta-me acordar logo de manhãzinha que ela vem rodear o meu espírito e me lembrar de coisas que há muito minha cabeça havia arquivado no baú do esquecimento. Sinto de repente novamente então todos os efeitos de um tempo que já passou, mas que, simultaneamente, se faz presente em cada inspiração que dou.


Sinto a falta da minha infância, daquela versão simples e inocente do meu eu atual, que podem até com razão apontar como jovial, mas que muito já aprendeu e, desde então, muito mudou e cresceu.


Lembro com um aperto no peito da minha casa, do lugar onde nasci e fiz muitos amigos. Por lá só tive coragem de passar duas ou três vezes desde que deixei, forçada, seu conforto maternal. Ao olhar com olhos molhados as paredes daquele antigo edifício, pesou em mim uma culpa enquanto li as letras da palavra abandono nas velhas janelas.


As memórias que armazeno em local privilegiado não me deixam mentir e podem até doer, saldosamente arder, mas são bens que guardo a sete chaves com amor e proteção animal.


Sonho acordada desde noites de natal até fatos que se repetiam diariamente. Assisto um filme em preto e branco nas lentes da minha infância e (re)vejo almoços de domingo do chefe (nos dois sentidos). Seus cabelos brancos já estavam lá, mas naquela época era tão diferente, tão vivo, ativo, presente em minha vida.


Limpo hoje a poeira de tais lembranças e choro, criança, a dor de outro tempo. Minha avó, tão atenta, estava ali ao meu lado e mal a notava. Hoje sofro a mente alterada de alguém que não mais me reconhece. Hoje lamento não ter aproveitado como deveria seus afagos e palavras de carinho.


Quero chorar agora todas as tardes na varanda, todos os cantos dos pássaros, todas as brincadeiras e correrias pela casa. Quero lavar de mim toda a tristeza de ter perdido uma época tão boa e poder continuar guardando as lembranças, mas que estas só me tragam sorrisos.


Revivo saldosa desde os momentos de alegria até os de tristeza. Guardo em mim tudo o que posso e penso não mais cometer o mesmo erro. Vou viver com os olhos bem abertos. Vou notar cada detalhe do céu que cobre minha janela de luz, vou distribuir palavras repletas de amor a todos os afetos da minha vida.


De hoje em diante não mais me pesará a saldade e sim completará a felicidade com a qual olharei para trás.

12.9.09

"Tão bom morrer de amor e continuar vivendo."

Mário Quintana



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Hoje fui à Bienal e, assim como na última vez, amei! Assisti à leitura de poemas do grande Mário Quintana por Elisa Lucinda e Paulo José e foi uma experiência única. A naturalidade com a qual a Elisa fala os poemas, o sentimento que ele emprega na leitura... muito bom mesmo! Eu estava atrás do livro dela "A poesia do encontro", mas, infelizmente, só depois que cheguei em casa descobri que estava vendendo numa editora que eu não visitei... Mas a grande novidade do dia é que eu tive coragem e entreguei para ela 4 poesias minhas! Será que ela vai me responder?? A partir de agora vou ficar louca entrando no meu e-mail 95 vezes ao dia, hahahaha... Qualquer novidade eu posto aqui! =D

8.9.09


O chamado

Isadora Garcia



Escuto a poesia

A poesia a me chamar

A poesia que sinto no ar


A poesia está na cor

A poesia está no sabor

A poesia está no compor

A poesia que liberta a dor


Escuto-a gritando

Escuto-a sussurrando

Escuto a poesia

A poesia a me chamar


A poesia veio do mar

A poesia a me chamar

A poesia veio com o vento

O vento a sussurrar

As dores, a poesia a libertar


A poesia vem a cantar

A poesia a me chamar


A poesia

Tu não ouves?

Quer entrar

A poesia a te chamar.


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Este é um poema antigo meu.. acho que escrevi há 2 anos, mas gosto bastante, então, pela falta de novidades... é ele que posto hoje.

1.9.09


O chamado da noite

Isadora Garcia



Ouvi as horas todas da noite

Pude ver cada detalhe do eco

Que o silêncio provocou em meu pensamento.


Desenhei sonhando tua alma

Pude cheirar a doce saudade

E recordar o amor de outro tempo.


Não percebes que tuas constantes aparições

Despertam meu sentimento a toa

E reviram-me em meus lençóis?


Senti hoje novamente a presença

Do teu riso divertido

E pensei ter tocado a tua voz.


Isso é tortura, é loucura

Não posso continuar procurando teu cheiro

Não posso continuar vivendo uma ilusão.


Devo pedir de uma vez por todas

Que partas e leves contigo teu sorriso

Teus contornos perfeitos e toda essa tentação.


Embale teus olhos ternos, teu gentil tato

Junte tudo e não voltes mais!

Mas saias antes que eu sinta tua falta...


...e antes que esqueça da dor que ressalta.

20.8.09

Desafio II: contar uma história de dois minutos em duas páginas.

Minutos preciosos – a decisão de uma vida.

Por: Isadora Garcia



Renata corria pelo aeroporto descompassada. Esbarrava em muita gente, pulava malas, mas parecia nem se dar conta do mundo ao seu redor. Lágrimas rolavam pelo seu rosto pálido. A única coisa que conseguia ver em sua frente era a carta de Rodrigo avisando que havia se alistado no exército. Era uma despedida, o menino que não dispunha de mais de 19 anos partiria no vôo das 17h e faltavam dois minutos para fecharem os portões.


Ela tinha que chegar a tempo. Seu coração batia desesperadamente em seu peito. Ele tinha que saber da verdade, ela não poderia arriscar nunca mais vê-lo e ter que guardar o segredo com ela pelo resto de sua vida. Lembrou dos cabelos negros ondulados do seu amado. Pensou no sorriso dele de algumas semanas atrás. Era tudo tão simples quando ainda estavam na escola...


Sentiu um aperto no peito. Perdê-lo seria como morrer e ter que nascer de novo. Ela não lembrava mais como era viver sem ele e se forçava a não pensar nisso. Pulava de três em três os degraus da escada rolante que levava ao segundo andar.


Um minuto. Ela entrou na sala de embarque e parou por um momento. Qual era mesmo o número do maldito vôo? Lembrava que começava com 24, mas os 3 últimos números não vinham a sua mente de maneira nenhuma.


Caminhou pelas filas lotadas de gente e foi olhando para os painéis. Alguma daquelas seqüências de números deveria ser a certa e Renata sabia que se visse a placa se lembraria.


Já estava quase na última entrada e nenhum sinal quando, de repente, avistou o número correto. Disparou em direção ao painel que dizia “Vôo 24651”. Não havia mais ninguém na fila com exceção de um rapaz que caminhava na direção da aeromoça segurando uma mala de mão e sua passagem.


- RODRIGO!


O rapaz parou com a mão estendida. A aeromoça não sabia se checava a passagem em sua mão ou se olhava para a menina descabelada que berrava da outra extremidade do salão.


- Renata... – ele murmurou com uma expressão incrédula.


-Rodrigo! Espera!


Ele não sabia o que pensar. Ter que se despedir ao vivo não estava em seus planos, ele não conseguiria... Mas estava feito. Ele tinha que partir. Não havia mais como voltar atrás.


-Rodrigo! – Renata se jogou em cima do menino num abraço apertado que o fez cambalear para trás. Ele estava em choque. Não podia crer que a menina que amava estava ali e que ele teria que dizer a ela que teriam que se separar. Uma lágrima rolou por sua bochecha.


-Renata, o que voc...


-Rodrigo, por favor, me escuta. É importante. Você não pode ir. – ela disse atropelando as próprias palavras.


-Eu não...


-Shh. – ela colocou a mão sobre a boca dele e respirou fundo. Encarando-o nos olhos disse, então, dessa vez muito calmamente – Eu estou grávida.


De repente tudo ficou quieto. A mala que Rodrigo carregava caiu no chão. Era como se o ponteiro do relógio tivesse parado de girar para ele. Uma mistura de muitos sentimentos invadiu o peito do garoto. Pai? Como poderia ser pai? Isso mudava tudo. Isso mudava completamente tudo. Esperava ouvir qualquer coisa menos aquilo. Ele não podia abandonar um filho, ele não podia abandonar Renata. Agora era tudo diferente, ele tinha uma família!


-Com licença, mas os portões vão fechar agora. O senhor vai embarcar?


Mais um momento de silêncio. Rodrigo sorriu e encarou Renata. Mais lágrimas rolavam pelo seu rosto. Ele ergueu sua amada com um abraço apertado e a beijou carinhosamente, depois virou-se para a aeromoça e disse:


-Não. Eu tenho que ir pra casa. Pra nossa casa.


Os dois estavam radiantes de felicidade e se beijaram como se aquele fosse o primeiro beijo deles. Anoitecia do lado de fora do aeroporto e o avião de Rodrigo decolou. O rapaz de afastou de Renata um minuto e disse rindo:


-Você me pegou desprevenido.


-Como ass... – mas Renata não terminou sua frase. Nesse exato momento o garoto ajoelhou-se na sua frente segurando uma de suas mãos.


-Meu amor, como eu disse, você me pegou desprevenido, então não tenho um lindo anel para lhe oferecer. Será que mesmo assim você aceita se casar comigo?


Renata não sabia o que fazer com toda a felicidade que estava sentindo. Era como um sonho: o amor da sua vida, um filho deles crescendo em sua barriga.


-É claro que sim! – E então ele a ergueu e a girou no ar. Todas as pessoas no salão estavam atentos à cena e aplaudiram o jovem casal.


Eles não se importariam se alguém lhes condenasse por serem muito jovens para assumir tal compromisso ou se dissessem que haviam sido irresponsáveis. Nada disso faria sentido para eles, já que fora o filho que salvara a vida deles. A vida deles juntos.


17.8.09

Desafio I: contar uma história apenas com descrições do cenário.


Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada... mas tinha história.

Por: Isadora Garcia


A casa por fora parecia comum, como qualquer outra casa antiga, mas um alguém minimamente atento que a adentrasse, perceberia logo que suas cortinas velhas e rotas guardavam muitas histórias.

A porta de estilo imperial com dobradiças quase quebradas rangia quando era aberta e proporcionava a primeira visão do interior do que foi a morada de Dona Lourdes. O hall era esguio como a senhora e prolongava-se forrado com um tapete vermelho já gasto.

Ao fim do estreito corredorzinho havia uma grande sala que abrigara toda uma vida repleta de amores e aventuras e muitos “era uma vez”. A parede era pouco vista, já que cercando a sala havia estantes com livros e mais livros, muitas vezes equilibrados por sei lá o quê que os impedia de desabarem todos no chão empoeirado.

Com os mais variados títulos, os livros falavam sobre os mais variados assuntos, mas duas coisas eram comuns a todos eles: a autora e o vilão da história. Sim, muitas pessoas escrevem sagas sobre um herói, mas o que ali se encontrava era praticamente uma enciclopédia relatando diversos episódios envolvendo diversas pessoas, mas cujo fim era traçado sempre pelo mesmo homem traiçoeiro.

Numa pilha no chão estavam agrupados diversos discos de vinil de música clássica que pareciam ser a única coisa que anos antes mantinha a casa alegre. A música era tocada numa vitrola belíssima que ficava no centro do cômodo sobre uma mesa de três pés.

A sala inteira, por maior que fosse, possuía apenas duas saídas: uma para a cozinha e outra para o quarto. A cozinha era praticamente circular e seus artefatos de tecnologia muito escassa marcavam a morada de alguém que provavelmente evitava shoppings center e qualquer tipo de local onde se encontraria facilmente eletrodomésticos projetados para facilitar a vida das pessoas do século XXI.

O cheiro de café era a única coisa que parecia ter sobrevivido aos longos anos em que a casa se abasteceu a si mesma, sem ajuda de vida humana. Nos armários jaziam antigos pacotes do negro grãozinho que, com certeza, era a bebida favorita de alguém, pela quantidade exagerada que fora ali abandonada.

O quarto era um ambiente bastante parecido com o restante da casa, muito antigo, mas que contava com um diferencial marcante: a luminosidade. A sacadinha que vivia com as portas escancaradas permitia uma luz natural incrível que privilegiava o assento diante de uma pequena mesinha de madeira. A mesa sustentava uma máquina de escrever bastante marcada pelo uso contínuo que ignorava hora, tempo ou época.

Ao banheiro situado num cômodo cuja entrada era no canto do quarto pouco se deve acrescentar. Era um banheiro como outro qualquer com o diferencial de não apresentar espelhos.

O grande e rústico armário do quarto assistiu a muitas caminhadas indecisas em busca de inspiração e pôde presenciar o último dos acontecimentos humanos na casa. Humano nem tanto, o referido acontecimento marca o perigo que pode representar uma vida solitária acompanhada de um ser simultaneamente real e imaginário de mente sanguinária.

Pelo chão do quarto estavam espalhadas várias folhas brancas rabiscadas com o mesmo tipo de desenho: a silhueta de um homem prestes a assassinar uma vítima. A vítima parecia ser a dúvida do autor dos desenhos, pois ora era mulher, ora homem. Ora jovem, ora idoso. O único desenho não riscado, porém, era um inacabado onde uma velhinha sentada digitava o ponto final de uma história de terror.