Hoje acordei e havia um pássaro
em minha janela. Aproximei-me e estranhei a calma do pequenino frente ao que
deve parecer um gigante para ternos olhinhos, tão belos que são! Após desfrutar da tal doce surpresa, voltei à
rotina incessável dos dias, quase cega de tão automática. A comida sem gosto
das horas poucas da manhã, a água caindo em meu corpo e o que devia ser o
milésimo engarrafamento marcado pela mesma cena de sempre me impediram de reparar
uma presença pequena, discreta, mas constante.
Foi
divagando em meio às explicações do professor, sempre ininterrupto em suas
palavras complexas, que o notei ao meu lado. Era o pássaro da minha janela, era
ele a me vigiar! Trocamos perguntas explícitas e mudas, buscando respostas em
faces tão distintas, que impossível nos era ler nos traços um do outro o que
figurava nosso diálogo.
Tentei
fotografar cada pena colorida. Procurei memorizar em detalhes aquele momento,
aquela conversa silenciosa calorosamente a me inquietar. Mas quanto mais me
preparava para o susto de sua partida, mais ele me dava certeza da estabilidade
de sua presença. Não nos separaríamos mais, isto era óbvio! Qualquer um seria
capaz de ler tais verdades nos detalhes daquele momento, mas éramos nós os
únicos a dançar sob o som daquela melodia. Os dias seguintes vieram e cada vez
mais me alegrava nossa parceria. Nunca mais me via a sós. Nem na dor, nem na
alegria. Protagonistas eram dois dali em diante na poesia.