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1.4.22

Tinta transparente

Isadora Garcia 


Cai a noite e pinto versos

com tinta transparente 

Ainda fresca ela mancha,

se torna evidente

Sorte a minha que o mundo

não tem a mesma lente.

27.12.13

Escrevo em sonho

Isadora Garcia

EscreeeeeeeeevoPARO.
Pennnnnsssssssoo...
Soooono.    .    .
SoNhO...,...?...!...,...?.”...”.
Acordo! Escrevo! Apago! Escrevo!
Risco. O que era mesmo?
...? !!!? .,.?? “?” ? ... .
perco.
OOlhoo...
...............aguardo...............
Soooono.    .    .
SoNh-
Acordescrevapaguescrevo!
E ponto)
E pronto)
É isso)
Só isso)
Sorriso)

16.5.13

A cena final

Isadora Garcia

    Cada ponto final era como uma facada, cada vez alcançando espaços mais íntimos nas entranhas da velha. Era a última vez, ela sabia. Não haveria um próximo encontro, não haveria mais futuro, não haveria mais nada, era o fim. Não estava preparada para o adeus ainda, ela repetia, enquanto seus olhos, já embaçados pela emoção, deixavam escapar uma lágrima, única representação verdadeiramente física de seu sofrimento. Mas não havia mais como desistir, o acordo estava feito e este era o momento do adeus. As dores das feridas ardiam e matavam a escritora por dentro. Ela não podia parar, ou não chegaria ao fim, tinha consciência de sua limitação. Era pouco o ar que chegava a seus pulmões, estava morrendo. Morria junto com o fim da história que escrevia. Não era um fim como os outros, ah!, não era! Este fim marcava, também, o término de uma vida conjunta, de um amor incompreensível a corações humanos. A velha amava aquele homem com mais intensidade do que saberia explicar. E o fato de que dela dependia a existência dele queimava por dentro. Ele só morreria por causa dela, era tudo sua culpa. Seu corpo tremia. Estava ponto um fim à vida de ambos. A velha morria por matar seu personagem e ele morria em virtude da morte de sua criadora. Não havia alternativa, não havia saída. Ela soluçava. Seu sangue encontrava dificuldade para percorrer o caminho até seu coração. O barulho das teclas acompanhava as facadas que lhe tiravam a vida. Chegara a cena final do último dos romances figurados pelo vilão. Ele já avistara sua vitma: parada, sentada diante de uma máquina de escrever. Este seria o último assassinato, seria o golpe definitivo, mataria vitma e vilão, estranhamente misturados em seus papéis. O homem já estava próximo o suficiente, sedento por sangue, quando percebera que sua presa chorava, consciente do próximo evento. Mas isso pouco lhe importava. Este era seu destino, este era seu ofício. E com um último suspiro, a velha escreveu o ponto final.

4.11.12

Procura da poesia

Carlos Drummond de Andrade

(...)

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.

Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

21.6.12

Vozes guardadas

Isadora Garcia

No silêncio da noite, cautelosa, tento despertar uma das vozes que mora em meu peito. Todo cuidado parece pouco na delicada tarefa de interromper-lhe o sono sem causar-lhe incômodo. Quero ouvi-la, quero descobrir quais doces palavras ela anda guardando para si, embora haja sempre o risco de serem amargas suas palestras.

Um pouco do que me compõe

Isadora Garcia

Quero levar ao mundo
um pouco de mim.
Palavras, que sejam.
Rimas, enfim.

Sei que, para alguns,
serão mais do que sons.
Além de verem riscos,
lerão diversos tons.

Quero levar-lhes um pouco
do que me compõe.
Esperar que aceitem
o que se propõe.

Talvez seja preciso
uma busca cautelosa,
exercício ardiloso,
tarefa grandiosa.

Pouco devo dizer,
é importante definir.
Desejo que, ao me lerem,
muito(s) possam ouvir.

31.5.12

Sonhar é permitido?


Isadora Garcia 

Descobri a magia e o poder das palavras aos poucos. O mistério que as envolve foi me fascinando de tal forma, que não pude ignorá-lo. Ele tornou-se autor de meus sonhos e me incentivou a buscar na beleza das letras a possibilidade de externar sentimentos, fantasias e desejos. A descoberta desta possibilidade infinita de provar tão doce sabor me encantou e, leve e sorridente, dei asas a sonhos que me levaram (e ainda levam!) para mundos fantásticos. A coisa foi tomando dimensões que, a meus olhos, eram magníficas, mas, na ótica da fria realidade, eram preocupantes. Foi então que começaram a puxar meus pés de volta para o chão, a me impor vendas e cordas, a cortar minhas asas, que cultivava com tanto orgulho. Que dor! Que horror! Aquilo me doeu, como me doeu! Mas as vendas não eram negras o suficiente e as cordas não tinham a força requerida para parar os cantos de minha alma. Durou pouco o tempo em que aceitei esta prisão. Logo minhas asas já estavam novamente fortalecidas e foi então que dei o maior salto de todos! Ah, que maravilha o vento a me tocar o rosto! Era incrível a leveza depois da privação! Hoje cultivo meus sonhos e meu imaginário, confiante. Muitas vezes ainda sinto a queimação das cordas em meus pés, tentando me prender a um mundo de limitações, mas logo vêm as palavras a me abrir os olhos, a levantar meu rosto e me apontar o céu, moradia eterna da alma que acredita.

16.6.10

Limite

Henrique Rodrigues


Posso dominar o verso, não a vida

Que não cabe em laço, ou pode ser medida.


Há uma certa complacência nisso tudo,

Porque o verso pode estar assim, desnudo,


Para que eu o vista com o que me convenha.

Já a vida, esguia, não pede contra-senha


Que a revele. Está sempre por ser coberta

Com os véus do livre-arbítrio. E por ser incerta


É que a vida escorre aqui nesta ampulheta

Dos versos, halo tão-somente faceta


Que permite termos algo em nossas mãos.

Não sei toda a lavoura, deixo-te os grãos.


(Do livro A musa diluída)

14.3.10

Princípio comum

Isadora Garcia


Num segundo me vem a vontade

de tudo o que sinto poder expor.

Corro então, busco a verdade

de cada palavra que venero com amor.


Muitas vezes o que fica é o vazio,

a procura ainda não acabou.

Pelos labirintos de rimas vadio,

pois a tentativa primeira não saciou.


Então de repente o conflito faz sentido,

reconheço-me por inteiro depois de ter lido,

aquieto meu peito e sorrio por ter conseguido.


Na poesia acho não a resposta, mas a solução.

Sua magia me fascina e me dá gratidão.

Sentimentos e palavras em perfeita união.


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Sendo hoje o Dia nacional da poesia, não podia deixar de fazer esta homenagem! A poesia merece mais do que isso, na verdade, mas como não posso mostrar a todos do mundo o seu verdadeiro valor, fico com estes versos singelos neste dia chuvoso...