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4.11.12

Procura da poesia

Carlos Drummond de Andrade

(...)

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.

Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível que lhe deres:
Trouxeste a chave?

Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

1.6.12

Quino


22.12.11

Paulo Leminski

o bicho alfabeto
tem vinte e três patas
ou quase
 
por onde ele passa
nascem palavras
e frases
 
com frases
se fazem asas
palavras
o vento leve
 
o bicho alfabeto
passa
fica o que não se escreve

10.12.11

II - O Meu Olhar

Alberto Caeiro

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...

em "O Guardador de Rebanhos", 8-3-1914

‎"A coisa não está nem na partida nem na chegada, mas na travessia" Guimarães Rosa

16.6.10

"Sem ver para onde vou, passo a remar.
Não sei quanto de mim constrói o barco,
Nem sei quanto de mim preenche o mar."

(fragmento do poema "A não-tormenta", de Henrique Rodrigues)

Limite

Henrique Rodrigues


Posso dominar o verso, não a vida

Que não cabe em laço, ou pode ser medida.


Há uma certa complacência nisso tudo,

Porque o verso pode estar assim, desnudo,


Para que eu o vista com o que me convenha.

Já a vida, esguia, não pede contra-senha


Que a revele. Está sempre por ser coberta

Com os véus do livre-arbítrio. E por ser incerta


É que a vida escorre aqui nesta ampulheta

Dos versos, halo tão-somente faceta


Que permite termos algo em nossas mãos.

Não sei toda a lavoura, deixo-te os grãos.


(Do livro A musa diluída)

26.2.10

Affonso Romano de Sant'Anna:

A

Arte

___é luz

___é sina


A

Arte

___aluzcina.


Quero

___Aluzinarte.


(http://www.affonsoromano.com.br)

11.11.09

Metade

Oswaldo Montenegro



Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio;
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca;
Porque metade de mim é o que eu grito,
Mas a outra metade é silêncio...

Que a música que eu ouço ao longe
Seja linda, ainda que tristeza;
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante;
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade...

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece
E nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta
A um homem inundado de sentimentos;
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo...

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço;
E que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada;
Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão...

Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo
Se torne ao menos suportável;
Que o espelho reflita em meu rosto
Um doce sorriso que me lembro ter dado na infância;
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
A outra metade eu não sei...

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais;
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço...

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para faze-la florescer;
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção...

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade... também.

15.10.09


Ontem fez um ano que eu mergulhei de cabeça numa nova vida. Ontem fizemos um ano de namoro. Há um ano que construímos a nossa história e não mais cada um a sua. Desde o dia 14 de outubro do ano passado eu sorrio ao lado dele e ele ao lado meu. Ontem eu ganhei um presente maravilhoso: uma aliança de compromisso com o nome dele gravado e a nossa data. Estou tão feliz que não consigo nem conter meu sorriso bobo ao admirar o anel no meu dedo anelar. É tudo tão mágico quando estamos juntos, me sinto tão segura em seu abraço, observar aqueles olhos lindos me traz uma paz, uma certeza de que será pra sempre que é simplesmente indescritível...


Deixo aqui em homenagem a este aniversário então a música que ele fez e que tocou pra mim antes de me pedir em namoro:


Você e eu

Bruno Cabral

Para Isadora Garcia


Penso em você a cada instante

No seu olhar, no seu sorriso

Esteja perto ou distante, não importa

Penso em você comigo!


Foi assim tão de repente

Seu olhar cruzou com o meu

E a partir desse momento

eu sabia que era só seu


Você é a rima dos meus versos

Minha maior inspiração

É tudo que eu penso

As letras da minha canção


Fomos feitos um pro outro

E não estou errado

Sou louco por você

Completamente apaixonado


Te amo, fica comigo

Te quero, eu te preciso

Não da mais para viver

longe do seu amor

Fica comigo, e esquece tudo o que passou

12.9.09

"Tão bom morrer de amor e continuar vivendo."

Mário Quintana



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Hoje fui à Bienal e, assim como na última vez, amei! Assisti à leitura de poemas do grande Mário Quintana por Elisa Lucinda e Paulo José e foi uma experiência única. A naturalidade com a qual a Elisa fala os poemas, o sentimento que ele emprega na leitura... muito bom mesmo! Eu estava atrás do livro dela "A poesia do encontro", mas, infelizmente, só depois que cheguei em casa descobri que estava vendendo numa editora que eu não visitei... Mas a grande novidade do dia é que eu tive coragem e entreguei para ela 4 poesias minhas! Será que ela vai me responder?? A partir de agora vou ficar louca entrando no meu e-mail 95 vezes ao dia, hahahaha... Qualquer novidade eu posto aqui! =D

5.8.09


Súbita
Henrique Rodrigues


viver é hoje, tão prosaico
e em prosa tudo segue, lento
mas eis que de repente irrompe
uma idéia simples, você

tão pequenina pulsação
fruto brotado nesta folha
vela e revela, mostra e guarda
o que está além da prosa, em verso


(retirado do livro: "A musa diluída", 2006)

13.7.09

Hoje estou fugindo um pouco do padrão. Em vez de poemas meus estou postando textos de outros autores referentes ao fazer poético, que é um tema que eu adoro! E agora um texto maravilhoso de Danilo Castro (http://daniloalfa.blogspot.com/)

Labirinto

"Eu hoje me cansei um pouco de mim. Cansei dessa necessidade de escrever em primeira pessoa para me expressar melhor. Cansei de relatar as verdades que não vivi e de acreditar que elas são parte da minha história. Cada vez que eu pulo num abismo eu descubro que o chão nunca me espera e que o eco do meu berro estrondoso fica pairando até não se sabe quando. Eu sou tão volúvel, tão volúpia, tão Eurico que eu cansei de me ser. Eu cansei dessa fome aqui no estômago mesmo. Cansei de me confundir entre o que é e o que não é de mim aqui no papel. Cansei de escrever as palavras: escrever, papel, personagem, história e algumas outras que são as mesmas coisas. Quero ser mais opaco e não o reflexo do que ando lendo. Eu quero ser o recado e não o menino de recados. Eu quero me ser, mas não sei onde me busco. Estou sempre no abismo, só sei que pulei e que gosto da sensação que antecede o pulo. Cansei de não ser pontiagudo e de tentar o ser. Sou todo esférico, polido de mundo e quero cortar a pele dos outros sem ter força ou dom para isso. Quero menos pretensão e apenas escrever sem ser repetitivo e se por ventura alguém me ler, não me importarei. Parece que eu careço de reconhecimento e tenho todo o egocentrismo do Tudo, mas não passo de mosca morta, porque a viva ao menos irrita. Eu ando meio confuso sem saber onde estão os planos habitáveis e os inabitáveis. Eu não sei quem sou no papel e estou me perdendo quando tento me desvendar fora dele. É como se de mim evacuasse o que sou com porções do que não sou, mas o que não sou emana do que ponho aqui e se funde ao que vivo. É um drama sem a estrutura início-clímax-resolução. Estou eternamente vivendo o clímax sem o ser, por isso eu sôo vago e transeunte. Se eu resolver escrever em terceira pessoa é provável que eu não venha ter a habilidade de ser verdadeiro. E quem me disse que o que escrevo é verdadeiro? Ninguém me responde. São vários mundos, vários personagens, uma multidão que crio ao meu lado, mas parece que é cada um por si ou estou sendo alvo de uma conspiração maligna de mim contra mim mesmo? Cansei de ser ator, de ter essa necessidade de me usar para viver o que não vivo, de gritar o que nunca gritaria ou suar dos meus poros as almas que nunca habitaram meu esguio e desengonçado corpo em eterna puberdade. Cansei, não quero mais escrever. Quero a normalidade (cacofônico?), vou exercer minha função procriadora na terra e ir-me o quanto antes daqui. É por isso que tenho medo do que ponho em letras, porque nem eu sei o que vai vir daqui a pouco, daí quando eu reler as asneiras que acidentalmente brotaram, irei bater de frente com dilemas absurdos que nunca da minha voz sairiam. Eu estou perdido. Alguém aí tem a chave do meu enigma?"

Da feitura do poema
Anne Sexton em entrevista a The Paris Review

"Os momentos que antecedem o surgimento de um poema, quando ocorre a expansão da consciência e você percebe que existe um poema em algum lugar, você se prepara. Eu corro ao redor da casa, saltitando, é uma exaltação maravilhosa. É como se pudesse voar, quase, e sinto-me muito tensa antes de ter contato com a verdade – a verdade dura. Então sento-me e dou a partida.



[...]



Acredito que sou muitas pessoas. Quando estou escrevendo um poema, sinto que sou a pessoa que deveria tê-lo escrito. Assumo com freqüência esses disfarces; eu os abordo como faria um romancista. Às vezes me torno outra pessoa, e quando isso acontece, acredito – mesmo nos momentos em que não estou escrevendo o poema – que sou essa pessoa."



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Postagem retirada do blog:

http://outraslevezas.blogspot.com/


28.2.09


Soneto do amor total
Vinicius de Moraes

Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te enfim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente

Hei de morrer de amar mais do que pude.