1.4.22

Tinta transparente

Isadora Garcia 


Cai a noite e pinto versos

com tinta transparente 

Ainda fresca ela mancha,

se torna evidente

Sorte a minha que o mundo

não tem a mesma lente.

Preso no vento

Isadora Garcia


Censura não cura do erro a origem

Censura tão dura faz-se vertigem 

Cala o que não se quer ouvir

Mata o que não se quer sentir.


Antes inofensivo,

o pensamento livre era

como uma flor cheirosa

no meio do caminho.

Inesperada, prazerosa

Digna de uma foto e um sorriso.

 

Hoje acorrentado,

o pensamento preso gera

aquela isca maldosa

no seio do meu ninho.

Disfarçada, misteriosa

Dona de um fogo e um feitiço.


Encerra, leva daqui, peço.

Enterra, nega existir, peco.


Mas só quem canta

as verdades sentidas

Só quem abre

as imaturas feridas 


É o vento.

Seu calento,

Meu sustento.


Uma brisa e foi.

Mais um sopro e fui.