16.6.10

Limite

Henrique Rodrigues


Posso dominar o verso, não a vida

Que não cabe em laço, ou pode ser medida.


Há uma certa complacência nisso tudo,

Porque o verso pode estar assim, desnudo,


Para que eu o vista com o que me convenha.

Já a vida, esguia, não pede contra-senha


Que a revele. Está sempre por ser coberta

Com os véus do livre-arbítrio. E por ser incerta


É que a vida escorre aqui nesta ampulheta

Dos versos, halo tão-somente faceta


Que permite termos algo em nossas mãos.

Não sei toda a lavoura, deixo-te os grãos.


(Do livro A musa diluída)

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