28.10.12

Dilemas de um talvez

Isadora Garcia


Nada neste mundo é pior
que o silêncio de um talvez.
Preferia a dor de um jamais,
que corta, que fere, que mata de vez.

A espera, a dúvida, a ansiedade...
Como me perturbam tais sentimentos!
Antes a lágrima da partida,
que a inquietude do pensamento.

Seu talvez me tira o sono,
mantém acesa a esperança.
Seu talvez me (des)ilude,
me rouba qualquer segurança.

Sigo assim, instável,
nunca sei quando acredito.
Chegará logo a resposta?
Findará meu estado aflito?

Fico, então, imóvel,
Impossível é prosseguir.
Prolonga-se meu sofrer,
e seu talvez segue a sorrir.

21.10.12

Olha e vê!

Isadora Garcia

Era uma vez uma menina bem pequenininha. Bem verdade era que as responsabilidades que levava nas costas não condiziam com o tamanho da pobre menina. "Já és grande o suficiente!", diziam a ela, "já está mais do que na hora de caminhares com tuas próprias pernas, oras!". Mas não era assim que a menina se via. Para ela, suas mãos ainda não suportavam o árduo trabalho, seus pés logo se cansavam de sustentar o peso de toda sua obrigação. Olhava-se no espelho e via refletido em seus olhos castanhos o medo. Como tinha medo essa menina! Medo de quê? Medo do futuro, mas é claro! Ah, o futuro... Há algo mais amedrontador do que aquilo que esta palavra resume? O incerto, o obscuro, o duvidoso... Sim, era o futuro que figurava nos pesadelos da menina. E assim ela foi vivendo, ela foi dando conta daquilo que dela era exigido. Mas mal percebia, a menina, que caminhava a passos largos em direção ao seu temido futuro. E seu caminho fora ficando mais claro, mais iluminado, mais povoado, também. De repente, ela, que pensou que o caminho para o futuro devesse ser percorrido a sós, percebeu-se rodeada de companhias, que, num falatório animado, distraiam-na dos obstáculos, alertavam-na para os perigos. Contente, a menina já pouco se lembrava de seus medos. Era como se eles estivessem adormecidos, esquecidos embaixo de pesados cobertores. Já não era mais uma menina. Crescera. Verdade era que as feições juvenis ainda eram muito presentes, mas a mente (ah, a mente!) já estava muito mudada, muito amadurecida, muito vivida, se é que é permitido assim dizer de alguém de 19 anos. Sim, creio que assim seja possível afirmar, pois é isto que a menina via, mas não só isso. Num dado momento da caminhada, ela fora surpreendida pela presença de um enorme espelho. Em sua bela e delicada moldura, estava escrito simplesmente: "olha e vê". E foi isso que ela fez. Neste momento, a menina se viu, a menina se percebeu. Logo lágrimas encheram seus olhos e obscureceram sua visão. E quanto menos enxergava, mais era a menina capaz de se ver! E que visão incrível! Como pudera o tempo, a correria do caminhar e as distrações da jornada lhe tornarem tão alheia a si mesma? A menina se via e chorava, emocionada. Tudo o que ela mais queria estava se tornando realidade! Ela estava vendo em si mesma a realização de uma antiga promessa, algo que se propôs, timidamente, a realizar anos antes, mas que nunca chegara a verdadeiramente acreditar que poderia vir a se concretizar. E lá estava ela. Real. Forte. Capaz. Esta visão foi talvez o marco mais importante da vida da menina. Foi a partir deste momento que ela começou a confiar em si mesma. E quando confiamos em nós mesmos, não há fronteiras que limitem até onde poderemos chegar!