23.10.22

Mascarados sentimentos

 Isadora Garcia

 

Perdida em medos

Afogada em desejos

Num labirinto de mares

Incapaz de discernir

Será

Medo

travestido

em desejo

Será

Tentação

disfarçada

em pânico

Seja qual for

Teu núcleo,

Me sufoca.

Me paralisa.

Me queima.

Será só por hoje?

Ardo em brasas

Mas se efémera

For esta fome

Aceito.

Feridas fecham.

Imprevisíveis apenas

As cicatrizes.

1.8.22

Pride

Isadora Garcia

Being proud is like riding a rollercoaster. On your way up, the wind makes the hair on the back of your neck come to life. You keep seeing the same view, but from higher and higher. Things get smaller as you climb. You may feel big in comparison, or you may feel a bit out of proportion. When you reach the summit, you wonder why the hell you’re there. Whose idea was it again? You consider the pain of falling from that height. Would you even survive? But the car doesn’t wait for you to process these feelings. Before you know it, you’re riding down. And the wind is so strong, it’s hard to see. You have to yield control for a moment there. It’s not up to you if you live or die anymore. Then the train breaks smoothly until it comes to a full stop at the bottom. You can feel your body again. The security bar is lifted and you hit the ground with your foot as you exit the car. You’re still a bit dizzy, it was all exceptionally fast. It seemed like much longer, though. Now you’re safe again, you gotta resume your life as if that hadn’t happened. It's odd. Really odd.

27.7.22

Biblioteca de nós duas

Isadora Garcia

Quantas almas gêmeas

numa mesma prateleira?

Quantos à primeira vista

amaram-se ali?

Eu, você, dentre todas elas

Uma multitude de mim

Num infinito de você

Nossas histórias nesta estante

Suas outras bem naquela

E minhas tantas acolá.

Eu, você, um tanto de vezes

Nós duas do avesso

E em todas as línguas.

Uma, duas, três mil vezes

Namorando em cada página

Já escrita ou pensada.

Sempre existimos

 Isadora Garcia


E onde está a nossa história

Nesse mar de livros publicados?

Cadê o nosso amor sendo contado

Quando há tantos outros repetidos?


Pra todo lado é o mesmo enredo

Mas em canto algum encontro o nosso.

Onde estão os nossos amores?

Onde estão os nossos nomes?


Um legado incontável,

Um silêncio memorável,

Mas isso acaba aqui.


Se não as achei,

Eu mesma as crio.

Se não me contaram,

Às próximas, escrevo.

23.7.22

Impulses

Isadora Garcia

Need drove you here.

Yet you’re still

On hold

Unmoving

Waiting

For what?

You ask

Yet can you hear?


15.7.22

Void

Isadora Garcia

And just like time

They slip away

The more you wait

The less they stay


You blink, they shrink

You wait too long

You set the tone


Only in memory

can they last


A formless…


.

1.4.22

Tinta transparente

Isadora Garcia 


Cai a noite e pinto versos

com tinta transparente 

Ainda fresca ela mancha,

se torna evidente

Sorte a minha que o mundo

não tem a mesma lente.

Preso no vento

Isadora Garcia


Censura não cura do erro a origem

Censura tão dura faz-se vertigem 

Cala o que não se quer ouvir

Mata o que não se quer sentir.


Antes inofensivo,

o pensamento livre era

como uma flor cheirosa

no meio do caminho.

Inesperada, prazerosa

Digna de uma foto e um sorriso.

 

Hoje acorrentado,

o pensamento preso gera

aquela isca maldosa

no seio do meu ninho.

Disfarçada, misteriosa

Dona de um fogo e um feitiço.


Encerra, leva daqui, peço.

Enterra, nega existir, peco.


Mas só quem canta

as verdades sentidas

Só quem abre

as imaturas feridas 


É o vento.

Seu calento,

Meu sustento.


Uma brisa e foi.

Mais um sopro e fui.