29.12.12
Fim súbito para o amor
13.11.12
Roteiro da resignação
Empenho,
vontade,
dedicação.
Esforço,
cansaço,
tentação.
Dúvida,
angústia,
distração.
Foco,
meta,
satisfação.
Orgulho,
coragem,
avaliação.
Crítica,
ordem,
rejeição.
Tristeza,
amparo,
consolação.
Estímulo?
Desânimo.
Determinação?
Desistência.
Conformação?
4.11.12
Procura da poesia
(...)
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível que lhe deres:
Trouxeste a chave?
Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.
28.10.12
Dilemas de um talvez
21.10.12
Olha e vê!
Era uma vez uma menina bem pequenininha. Bem verdade era que as responsabilidades que levava nas costas não condiziam com o tamanho da pobre menina. "Já és grande o suficiente!", diziam a ela, "já está mais do que na hora de caminhares com tuas próprias pernas, oras!". Mas não era assim que a menina se via. Para ela, suas mãos ainda não suportavam o árduo trabalho, seus pés logo se cansavam de sustentar o peso de toda sua obrigação. Olhava-se no espelho e via refletido em seus olhos castanhos o medo. Como tinha medo essa menina! Medo de quê? Medo do futuro, mas é claro! Ah, o futuro... Há algo mais amedrontador do que aquilo que esta palavra resume? O incerto, o obscuro, o duvidoso... Sim, era o futuro que figurava nos pesadelos da menina. E assim ela foi vivendo, ela foi dando conta daquilo que dela era exigido. Mas mal percebia, a menina, que caminhava a passos largos em direção ao seu temido futuro. E seu caminho fora ficando mais claro, mais iluminado, mais povoado, também. De repente, ela, que pensou que o caminho para o futuro devesse ser percorrido a sós, percebeu-se rodeada de companhias, que, num falatório animado, distraiam-na dos obstáculos, alertavam-na para os perigos. Contente, a menina já pouco se lembrava de seus medos. Era como se eles estivessem adormecidos, esquecidos embaixo de pesados cobertores. Já não era mais uma menina. Crescera. Verdade era que as feições juvenis ainda eram muito presentes, mas a mente (ah, a mente!) já estava muito mudada, muito amadurecida, muito vivida, se é que é permitido assim dizer de alguém de 19 anos. Sim, creio que assim seja possível afirmar, pois é isto que a menina via, mas não só isso. Num dado momento da caminhada, ela fora surpreendida pela presença de um enorme espelho. Em sua bela e delicada moldura, estava escrito simplesmente: "olha e vê". E foi isso que ela fez. Neste momento, a menina se viu, a menina se percebeu. Logo lágrimas encheram seus olhos e obscureceram sua visão. E quanto menos enxergava, mais era a menina capaz de se ver! E que visão incrível! Como pudera o tempo, a correria do caminhar e as distrações da jornada lhe tornarem tão alheia a si mesma? A menina se via e chorava, emocionada. Tudo o que ela mais queria estava se tornando realidade! Ela estava vendo em si mesma a realização de uma antiga promessa, algo que se propôs, timidamente, a realizar anos antes, mas que nunca chegara a verdadeiramente acreditar que poderia vir a se concretizar. E lá estava ela. Real. Forte. Capaz. Esta visão foi talvez o marco mais importante da vida da menina. Foi a partir deste momento que ela começou a confiar em si mesma. E quando confiamos em nós mesmos, não há fronteiras que limitem até onde poderemos chegar!
19.8.12
Eternidade fugaz
12.8.12
4.8.12
Privação ideológica*
O mar da vida
21.6.12
Sonhar é permitido, dizem os jornais
-Sonhar é permitido, está nos jornais! E, olha só! Agora também está liberado viver para realizar seus sonhos!
-Será?! Não acredito! Não é possível!
-Pois acredite, rapaz! Foi decretado, virou lei!
-Mas... Logo eu que... Foram tantos anos tentando enterrar meus sonhos, tentando ignorar seus chamados... - Pausa - E se estiverem mortos?!?!
Vozes guardadas
Um pouco do que me compõe
1.6.12
31.5.12
Sonhar é permitido?
27.5.12
Memória fraca
26.3.12
Sozinho nunca está o coração que ama
25.2.12
As vozes do conhecimento
Por: Isadora Garcia
Era uma vez um menino muito curioso. Ele queria saber sobre tudo, perguntava aos adultos sem parar. Andava com os olhos bem abertos, atento ao mundo que o cercava. Mas à medida que foi crescendo, foi ficando triste. Tudo o que sabia, pensava, fora ensinado a ele por outros. Seu conhecimento nunca seria a priori, sempre haveria intervenção dos que o cercavam. Ele parou de perguntar, parou de ler, passou a tentar descobrir as coisas por si mesmo, apenas com o uso de seus sentidos e de seu pensamento. Gostava de analisar o comportamento da natureza, pois, para ele, ali não haveria intervenção humana, ele poderia compreender o que quisesse da maneira que julgava mais pura.
Com o tempo, porém, este isolamento da sociedade foi lhe deixando solitário, melancólico e ele passou se sentir inútil. Sua família, depois de muito tentar trazê-lo de volta ao convívio social, desistiu, acreditando que ele havia enlouquecido e que negaria para sempre qualquer ajuda. As maravilhas da natureza não mais o fascinavam, nem mesmo o movimento das nuvens, que tanto gostava de observar. Já era um homem e aquele sentimento de que o mundo desfilava na frente de seus olhos para ser por ele descoberto morria cada dia mais. Não havia mais a necessidade de buscar conhecimento, pois percebera que o conhecimento preso em seu corpo não servia de nada. Foi então que lhe ocorreu uma ideia maravilhosa! Era isso! Havia desperdiçado grande parte de sua vida atrás de algo que não era o que de fato lhe satisfaria! Mas agora ele sabia o que tinha de ser feito e a felicidade uma vez mais irradiava de seus olhos.
Voltou correndo para a vila onde morava, sorrindo a todos. Olha, o moribundo doido voltou, diziam os que o viam passar. Sua família chorou emocionada com o reencontro. O que o fez voltar, meu filho? Perguntou a velha. Mãe, descobri! Eu descobri, mãe! Dizia sem conter o entusiasmo. Descobriu o que, meu filho? O que tanto procurava que demorou esses anos todos para encontrar lá sozinho? O temor de que a loucura não houvesse ido embora ainda a atormentava. Descobri meu papel no mundo, mãe, para que sirvo! A resposta não foi muito bem compreendida pela velha, mas ao ver seu filho tão feliz, não pode deixar de comemorar. Fico feliz por você, meu anjo, muito feliz na verdade! Disse abraçando-o.
Os anos passaram e o que fora uma vez o menino mais curioso da cidade tornara-se o mais sábio dos professores. Transmitir seu conhecimento era o que mais o agradava. Reunia-se todos os dias com pequenas crianças ansiosas pelas histórias do bom professor. As aulas eram viagens pelo mundo. Pelas palavras do mestre, as crianças eram capazes de viver o que muitos adultos da vila foram incapazes de experimentar. Os pais ficavam felizes ao ver seus filhos tão entusiasmados para irem às reuniões, o que as tornou, com o tempo, cada vez mais cheias.
O professor percebera que o conhecimento não é corrompido quando é trazido por outra pessoa. Pelo contrário, ele é enriquecido! Aquilo que descobrimos por nós mesmos, ao ser passado a outro, será interpretado de forma diferente, o que dá início a uma constante renovação. Muitas vozes estão contidas nos conhecimentos que cada sociedade cultiva e, quanto mais vozes formos capazes de acumular, mais rico será esse conhecimento.
20.2.12
A última cena
Isadora Garcia
Para Francisco Pedro Garcia
Às vezes a lembrança da tua lágrima
Vem, sorrateira, me visitar.
Não sei se chora mais a lembrança
Ou o coração a lembrar.