Isadora Garcia
Os convidados
se aproximavam da Igreja de cabeças baixas, teclando freneticamente e correndo
os olhos de um lado a outro da telinha. Erguiam suas cabeças num movimento quase
sincronizado à medida que seus pés diminuíam a distância para os grandes degraus
de pedra.
Ao cruzarem os
belíssimos batentes e adentrarem o amplo salão, dirigiam-se aos bancos
compridos de madeira escura, a luz dos aparelhos celulares a iluminar seus
rostos. Sentavam-se e, num ritual ensaiado, digitavam seus números de telefone
no painel eletrônico nas costas dos bancos.
A Igreja
enchia rapidamente e já se via o padre no centro do altar. Assim que todos se
acomodaram e ergueram seus olhares, o pequeno ajudante, sobrinho da noiva,
ergueu um controle remoto e, com o peito inflado tamanho era o orgulho de
desempenhar tal papel, coordenou a descida de um grande telão sobre o altar.
Com
um sorriso bondoso, o padre recebeu do menino o controle e deu seguimento ao
ritual, pressionando o botão que ligou o telão ornamentado de um ouro brilhante.
No centro da tela, um único item bastante familiar indicava a todos a presença
de Wi-fi no ambiente. Os que haviam guardado os celulares nos bolsos os retiraram
novamente.
Mais
um clique no botão e o padre revelou o nome da rede, Deus_é_10, e a senha que todos deveriam digitar para ter acesso: Amém. O som de alguns teclados ecoou por
um instante no interior da Igreja.
O
pequeno ajudante estendeu ao padre um tablet,
permitindo que ele acessasse o Whatsapp
e abrisse a conversa Casamento Fabiana e
Rodrigo. Os contatos de todos os presentes já se encontravam no grupo,
graças à eficiência do sistema eletrônico configurado pelo Prefeito, presente
dado na inauguração do Programa Fiéis em
Rede.
Com
o noivo devidamente posicionado à sua esquerda, o padre deu início à cerimônia,
enviando um áudio ao grupo. Todos imediatamente pressionaram seus aparelhos aos
ouvidos e olharam para a porta da Igreja. Com a marcha nupcial em suas cabeças,
observaram a noiva sorridente dar os passos em direção ao altar.
Algumas
crianças bocejavam, outras sacodiam as pernas penduradas nos bancos, já inquietas.
Parentes menos próximos conferiam outras conversas no aplicativo enquanto
aquele instante eterno não se encerrava.
Um
de frente para o outro, o casal sorriu enamorado. Rodrigo enviou um emoticon apaixonado ao grupo e arrancou
suspiros de algumas moças: era um rapaz sensível. Sua dedicação em responder as
mensagens de Fabiana com rapidez foi um dos motivos que manteve o casal junto
por todos aqueles sete meses.
A
cerimônia decorreu sem grandes problemas, o sim dos noivos acompanhado de
várias exclamações demonstrando o entusiasmo que os preenchia naquele momento.
O padre anunciou, enfim, o casamento dos jovens, que se beijaram após trocarem
corações e emoticons apaixonados.
Os
mais emotivos choravam, os mais entusiasmados mandavam alegres parabéns em
áudio para o grupo. Os noivos saíram da Igreja de mãos dadas sob a chuva de
arroz e palmas. Tradições bobas, sabe como é.
O
carro arrancou levando os recém-casados para a comemoração do dia mais esperado
de suas agendas e os convidados mais lentos eram olhados com raiva pelos que
chegavam e digitavam seus números para serem adicionados no grupo Batizado da Aninha.
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