18.12.19

Fugaz



Isadora Garcia

É difícil esquecer algo que nunca houve
É impossível superar o amanhã que nunca chegou
Entender não é ao menos opção
Um vazio escuro
Surdo barulho
Oco
Vão

Talvez seja apenas um delírio remanescente
Resíduo de vidas que fogem à memória
Arde uma dor que nunca me foi dada
Herança de um canto qualquer dessa carne

Aqui
No mais calmo dos instantes
Sinto o eco do som translúcido
Como de passagem
Eu, apenas meio,
Não sou digna de razão

Calo o sentimento
Ouço enquanto me perfura
Me atravessa
Aguardo
Aceito
O sal escorre fechando o fato

E nunca houve.
E nunca foi.
Acordo perdida
Mas o resíduo fica
E um dia me lembrarei do seu calor.

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