30.6.10

Mão-dupla

Isadora Garcia

Eu te amo
Não posso dizer
Que te esqueci
Hoje vejo
Em ti
Minha felicidade
Não guardo
Rancor
Só conheço
Amor?

...ou...

Amor?
Só conheço
Rancor
Não guardo
Minha felicidade
Em ti
Hoje vejo
Que te esqueci
Não posso dizer
Eu te amo

21.6.10

O preocupar

Isadora Garcia


A noite me traz

O preocupar.

Silencioso, ardiloso,

Paira pelo ar.


Já tentei todos os remédios,

Não há como me medicar.

Basta o cair do dia

Para o sono ele me roubar.


Repetem-se as dúvidas,

Inútil é o pensar.

Saída não acho

Para me libertar.


Tateando no escuro,

Tento fugir.

Busco ajuda,

Não sei como agir.


É sempre o mesmo duelo,

Procuro medir.

Forço-me ao caminho certo

Mesmo tendo que me ferir.


O coração não posso

Sequer ouvir.

Insisto, imploro

Para desistir.


Cansada do mesmo lutar,

Me pego a dormir.

As forças parecem faltar,

Mas tento sorrir.

17.6.10

Comptine D'un Autre Été: L'après Midi (Yann Tiersen)

Isadora Garcia

O som doce destas notas,
ao tocar-me os ouvidos,
mistura-se ao meu coração.

Surge a vontade súbita de transpor

meus sentimentos com esta canção.


A melodia dança, suave,

não me atinge de forma natural.

Traz consigo uma magia única,

é algo maravilhoso, sensacional.


Meus olhos se fecham em silêncio

num ritual próprio de adoração.

A música canta, inocente

do próprio poder de invocação.


16.6.10

"Sem ver para onde vou, passo a remar.
Não sei quanto de mim constrói o barco,
Nem sei quanto de mim preenche o mar."

(fragmento do poema "A não-tormenta", de Henrique Rodrigues)

Limite

Henrique Rodrigues


Posso dominar o verso, não a vida

Que não cabe em laço, ou pode ser medida.


Há uma certa complacência nisso tudo,

Porque o verso pode estar assim, desnudo,


Para que eu o vista com o que me convenha.

Já a vida, esguia, não pede contra-senha


Que a revele. Está sempre por ser coberta

Com os véus do livre-arbítrio. E por ser incerta


É que a vida escorre aqui nesta ampulheta

Dos versos, halo tão-somente faceta


Que permite termos algo em nossas mãos.

Não sei toda a lavoura, deixo-te os grãos.


(Do livro A musa diluída)

6.6.10

Um ano de muito peso

– um desabafo há muito tempo engasgado

Vamos chegando na metade do ano e eu, adiantada, faço um balanço dele. Este ano tem sido tão pesado, tão repleto de emoções fortes. Ocorreram grandes coisas – boas e ruins – e a carga que seguro por estar vivendo tais experiências é grande. Estou esgotada, se é que me é permitido admitir.


Esse ano vi amizades se desfazendo, pessoas indo embora com raiva de mim... é impossível descrever o peso com que tais lágrimas correm cobrindo o meu rosto. Vê-los partir e nada poder fazer para que pelo menos lembrassem de mim com sorrisos...


Esse ano percebi meus avós mais doentes do que nunca, vivendo cada dia com menos forças, com menos vontade, sendo que qualquer um poderia lhes ser o último. E eu (dói demais admitir) tentando fingir que está tudo bem, fechando os olhos para o presente, tentando atar à minha mente memórias já difusas de dias alegres ao lado deles quando ainda sorriam e conversavam comigo.


Esse ano resolvi me preocupar um pouco menos com a escola e com a escolha do vestibular, achando que, assim, aliviaria as tensões que conheci ano passado e nas primeiras semanas desse. Mas, pelo visto, minha intenção não foi muito bem aceita pelos meus pais, que acham que, por se tratar do último ano, eu deveria estar dando mais de mim, esforçando-me mais do que nunca para conseguir realizar as expectativas deles em relação à minha colocação no vestibular. É claro que eu gostaria de ir muito bem, mas, sinceramente, prefiro relaxar minha mente e passar junto da maioria do que me estressar como eu estava me estressando para conseguir um lugar de mais prestígio.


Esse ano conheci mais sobre pessoas maravilhosas, que hoje me são amigos essenciais. E são essas pessoas que mantém vivo em meu rosto o sorriso que tento carregar todos os dias. Sim, nesse ano, apesar de tudo, sorri. Sorri muitas e muitas vezes graças às minhas amizades, graças ao sentimento maravilhoso de amar e ser amado sem dar ou querer em troca absolutamente nada, apenas a certeza de que amanhã será um dia alegre, afinal, será mais um dia ao lado dos meus amigos.