Sim, saldade com L mesmo, deixe que eu a escreva como quero, que essa minha saldade vem de mim e não de você, então sou eu sua dona e sua criadora. Escrevo-a assim, neologisticamente, porque essa não é uma saudade comum, batida, que já deu muito o que falar. A minha saldade tem gostinho de sal, tem presença de inerente tempero no meu dia.
Basta-me acordar logo de manhãzinha que ela vem rodear o meu espírito e me lembrar de coisas que há muito minha cabeça havia arquivado no baú do esquecimento. Sinto de repente novamente então todos os efeitos de um tempo que já passou, mas que, simultaneamente, se faz presente em cada inspiração que dou.
Sinto a falta da minha infância, daquela versão simples e inocente do meu eu atual, que podem até com razão apontar como jovial, mas que muito já aprendeu e, desde então, muito mudou e cresceu.
Lembro com um aperto no peito da minha casa, do lugar onde nasci e fiz muitos amigos. Por lá só tive coragem de passar duas ou três vezes desde que deixei, forçada, seu conforto maternal. Ao olhar com olhos molhados as paredes daquele antigo edifício, pesou em mim uma culpa enquanto li as letras da palavra abandono nas velhas janelas.
As memórias que armazeno em local privilegiado não me deixam mentir e podem até doer, saldosamente arder, mas são bens que guardo a sete chaves com amor e proteção animal.
Sonho acordada desde noites de natal até fatos que se repetiam diariamente. Assisto um filme em preto e branco nas lentes da minha infância e (re)vejo almoços de domingo do chefe (nos dois sentidos). Seus cabelos brancos já estavam lá, mas naquela época era tão diferente, tão vivo, ativo, presente em minha vida.
Limpo hoje a poeira de tais lembranças e choro, criança, a dor de outro tempo. Minha avó, tão atenta, estava ali ao meu lado e mal a notava. Hoje sofro a mente alterada de alguém que não mais me reconhece. Hoje lamento não ter aproveitado como deveria seus afagos e palavras de carinho.
Quero chorar agora todas as tardes na varanda, todos os cantos dos pássaros, todas as brincadeiras e correrias pela casa. Quero lavar de mim toda a tristeza de ter perdido uma época tão boa e poder continuar guardando as lembranças, mas que estas só me tragam sorrisos.
Revivo saldosa desde os momentos de alegria até os de tristeza. Guardo em mim tudo o que posso e penso não mais cometer o mesmo erro. Vou viver com os olhos bem abertos. Vou notar cada detalhe do céu que cobre minha janela de luz, vou distribuir palavras repletas de amor a todos os afetos da minha vida.
De hoje em diante não mais me pesará a saldade e sim completará a felicidade com a qual olharei para trás.
Hoje fui à Bienal e, assim como na última vez, amei! Assisti à leitura de poemas do grande Mário Quintana por Elisa Lucinda e Paulo José e foi uma experiência única. A naturalidade com a qual a Elisa fala os poemas, o sentimento que ele emprega na leitura... muito bom mesmo! Eu estava atrás do livro dela "A poesia do encontro", mas, infelizmente, só depois que cheguei em casa descobri que estava vendendo numa editora que eu não visitei... Mas a grande novidade do dia é que eu tive coragem e entreguei para ela 4 poesias minhas! Será que ela vai me responder?? A partir de agora vou ficar louca entrando no meu e-mail 95 vezes ao dia, hahahaha... Qualquer novidade eu posto aqui! =D
"A linguagem é uma armadilha. O poeta é o primeiro a reconhecer que dela não conseguimos escapar." A gaiola vazia, coluna de José Castello, Prosa & Verso do jornal O Globo, dia 20 de fevereiro de 2010
"Entre o bem e o mal, ergue-se (muralha impenetrável) a palavra." Agarrado a um poema, coluna de José Castello, Prosa & Verso do jornal O Globo, dia 12 de março de 2011
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"Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei/A caligrafia rápida destes versos/Pórtico partido para o Impossível" Tabacaria, Álvaro de Campos