Isadora Garcia
Momentos que passaram
Esqueçamos as tristezas
Forças hemos de ter
O novo há de ser
Isadora Garcia
Por: Isadora Garcia
Se algo aprendi nos últimos dias, sem dúvida é que o amor é um sentimento egoísta. Quando se ama, por mais que jure para si mesmo que o que mais importa nesse mundo é a felicidade da pessoa amada, o coração dará um jeito de enganar a razão e agir por conta própria, buscando a realização de suas vontades, sem nem pensar nas conseqüências de seus atos.
Quando se ama, o sentimento é tão forte, que ignora-se o do outro, pensando sempre ser o único dotado de tamanho amor. O que o outro sente, a maneira como o outro age, o ser apaixonado não busca entender nada extrínseco ao seu amor, o que resulta na formulação de certezas errôneas e, principalmente, egoístas.
O amor pode ser o melhor dos acontecimentos, mas pode também ser o pior. A capacidade destrutiva do amor é inacreditável. Como costumam dizer, o amor é cego, mas cego não para enxergar os defeitos do que se ama e sim para enxergar o mundo ao seu redor. O amor ignora a existência de outras coisas a sua volta, de outras pessoas e seus respectivos amores e é aí que entram os desentendimentos, as brigas, os atos impensados e a capacidade destrutiva do melhor sentimento de todos.
Sei que, mesmo depois de toda essa conclusão triste, quando chegar a minha vez de sentir o que por hora observo, agirei desta mesma maneira, passarei por cima de sentimentos alheios e deixarei feridas que não pretendo, que no futuro arderão mais ainda no meu próprio coração repleto de amor.
Isadora Garcia
A noite me traz
O preocupar.
Silencioso, ardiloso,
Paira pelo ar.
Já tentei todos os remédios,
Não há como me medicar.
Basta o cair do dia
Para o sono ele me roubar.
Repetem-se as dúvidas,
Inútil é o pensar.
Saída não acho
Para me libertar.
Tateando no escuro,
Tento fugir.
Busco ajuda,
Não sei como agir.
É sempre o mesmo duelo,
Procuro medir.
Forço-me ao caminho certo
Mesmo tendo que me ferir.
O coração não posso
Sequer ouvir.
Insisto, imploro
Para desistir.
Cansada do mesmo lutar,
Me pego a dormir.
As forças parecem faltar,
Mas tento sorrir.
O som doce destas notas,
ao tocar-me os ouvidos,
mistura-se ao meu coração.
Surge a vontade súbita de transpor
meus sentimentos com esta canção.
A melodia dança, suave,
não me atinge de forma natural.
Traz consigo uma magia única,
é algo maravilhoso, sensacional.
Meus olhos se fecham em silêncio
num ritual próprio de adoração.
A música canta, inocente
do próprio poder de invocação.
Henrique Rodrigues
Posso dominar o verso, não a vida
Que não cabe em laço, ou pode ser medida.
Há uma certa complacência nisso tudo,
Porque o verso pode estar assim, desnudo,
Para que eu o vista com o que me convenha.
Já a vida, esguia, não pede contra-senha
Que a revele. Está sempre por ser coberta
Com os véus do livre-arbítrio. E por ser incerta
É que a vida escorre aqui nesta ampulheta
Dos versos, halo tão-somente faceta
Que permite termos algo em nossas mãos.
Não sei toda a lavoura, deixo-te os grãos.
(Do livro A musa diluída)
Vamos chegando na metade do ano e eu, adiantada, faço um balanço dele. Este ano tem sido tão pesado, tão repleto de emoções fortes. Ocorreram grandes coisas – boas e ruins – e a carga que seguro por estar vivendo tais experiências é grande. Estou esgotada, se é que me é permitido admitir.
Esse ano vi amizades se desfazendo, pessoas indo embora com raiva de mim... é impossível descrever o peso com que tais lágrimas correm cobrindo o meu rosto. Vê-los partir e nada poder fazer para que pelo menos lembrassem de mim com sorrisos...
Esse ano percebi meus avós mais doentes do que nunca, vivendo cada dia com menos forças, com menos vontade, sendo que qualquer um poderia lhes ser o último. E eu (dói demais admitir) tentando fingir que está tudo bem, fechando os olhos para o presente, tentando atar à minha mente memórias já difusas de dias alegres ao lado deles quando ainda sorriam e conversavam comigo.
Esse ano resolvi me preocupar um pouco menos com a escola e com a escolha do vestibular, achando que, assim, aliviaria as tensões que conheci ano passado e nas primeiras semanas desse. Mas, pelo visto, minha intenção não foi muito bem aceita pelos meus pais, que acham que, por se tratar do último ano, eu deveria estar dando mais de mim, esforçando-me mais do que nunca para conseguir realizar as expectativas deles em relação à minha colocação no vestibular. É claro que eu gostaria de ir muito bem, mas, sinceramente, prefiro relaxar minha mente e passar junto da maioria do que me estressar como eu estava me estressando para conseguir um lugar de mais prestígio.
Esse ano conheci mais sobre pessoas maravilhosas, que hoje me são amigos essenciais. E são essas pessoas que mantém vivo em meu rosto o sorriso que tento carregar todos os dias. Sim, nesse ano, apesar de tudo, sorri. Sorri muitas e muitas vezes graças às minhas amizades, graças ao sentimento maravilhoso de amar e ser amado sem dar ou querer em troca absolutamente nada, apenas a certeza de que amanhã será um dia alegre, afinal, será mais um dia ao lado dos meus amigos.
Isadora Garcia
Aqui dentro
pesa a dor da culpa.
Saber como te magoei
é meu castigo.
Se algo pudesse fazer
para rever o teu sorriso,
saiba, já teria feito.
Por favor não sofra,
não vale a pena,
eu não valho a tua dor.
Isadora Garcia
Num segundo me vem a vontade
de tudo o que sinto poder expor.
Corro então, busco a verdade
de cada palavra que venero com amor.
Muitas vezes o que fica é o vazio,
a procura ainda não acabou.
Pelos labirintos de rimas vadio,
pois a tentativa primeira não saciou.
Então de repente o conflito faz sentido,
reconheço-me por inteiro depois de ter lido,
aquieto meu peito e sorrio por ter conseguido.
Na poesia acho não a resposta, mas a solução.
Sua magia me fascina e me dá gratidão.
Sentimentos e palavras em perfeita união.
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Sendo hoje o Dia nacional da poesia, não podia deixar de fazer esta homenagem! A poesia merece mais do que isso, na verdade, mas como não posso mostrar a todos do mundo o seu verdadeiro valor, fico com estes versos singelos neste dia chuvoso...
A
Arte
___é luz
___é sina
A
Arte
___aluzcina.
Quero
___Aluzinarte.
Isadora Garcia
Disparou meu coração
E antes mesmo que pudesse sentir
Teus lábios nos meus,
Subitamente despertei.
Igualmente de repente notei:
Era tudo um simples sonho.
Mantive os olhos bem fechados
Para continuar na ilusão.
Teu cheiro percorreu meu organismo.
Não sei como vivi até agora sem ti.
A calma me veio com teu romantismo,
Com todos os gestos que, acordada, fingi.
Porém no fundo eu sabia:
Essa desorientada alucinação não duraria.
Quando a verdade buscasse, o ato revelaria
O vazio em meu quarto.
Rubem Alves
[...]
Se os olhos não serviram como metáforas, falarei sobre pianos. Mais precisamente, sobre os pianos Steinway, os mais perfeitos, que estão nas grandes salas de concerto do mundo. Os pianos Steinway são produzidos de forma absolutamente rigorosa e científica. Tudo neles tem de ter a medida exata. Todos têm de ser absolutamente iguais, para que o pianista não estranhe. Mas um piano, em si mesmo, é estúpido. Falta-lhes o poder de discriminação. Os pianos obedecem tanto a um toque de macaco, de um louco ou do Nelson Freire. Os pianos não são fins em si mesmos. São ferramentas. São construídos para tornar possível a beleza da música. Mas a beleza não é um objeto de conhecimento científico. Ninguém pode ser convencido a gostar de Bach por meio de raciocínios científicos. Não me consta que nenhum dos especialistas em construção de pianos da fábrica Steinway jamais tenha dado um concerto. Ciência eles têm. Mas falta-lhes a arte. Para que o piano produza beleza há os pianistas. Mas os pianistas nada sabem sobre ciência da construção dos pianos. O que eles sabem é tocar piano, coisa que não é científica... Os fabricantes de piano moram na caixa de ferramentas. Os pianistas moram na caixa de brinquedos.
A diferença está entre “ciência” e “sapiência”. Os teólogos medievais diziam que a ciência era uma serva da teologia. Parodiando eu digo que a ciência é uma serva da sapiência. A ciência é fogo que aumenta o poder dos homens sobre o mundo. A sapiência usa o fogo da ciência para transformar o mundo em comida, objeto de deleite. Sábio é aquele que degusta. Mas se o cozinheiro só conhecer os saberes que moram na caixa de ferramentas é possível que o excesso de fogo queime a comida e, eventualmente, o próprio cozinheiro...
Sinto como se a dor em meu peito fosse tanta
Que me impedisse de andar,
De sair do lugar.
Sinto como se me afundasse,
Perdida num lugar estranho a mim.
Sinto como se minhas infinitas lágrimas
Fossem tudo o que eu pudesse dizer.
Sinto como se minha cabeça pesasse,
Cheia das tentativas fracassadas.
Dos discursos ensaiados,
Das previsões incertas.
Sinto-me inútil,
Impotente quanto a um assunto
Impossível de descrever.